PALAVRAS de Irene Dóres: Hoje com "OS DIREITOS HUMANOS DE FELICIANO..."

Sabe aquele dia em que você pensa que tem tanta coisa pra falar e precisa se decidir por um assunto? Pois é, depois de pensar muito decidi falar do estimado pastor Marcos Feliciano; eu aposto que todos os brasileiros indiscriminadamente gostam muito dele. Primeiro, não se pode esquecer que ele é um “condutor de ovelhas” e que tem uma responsabilidade muito grande com a defesa dos mais fracos e com a evangelização dos seus fEis para seguirem os ensinamentos de Jesus, que teve como principal ordem: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Ah, eu acredito piamente que ele pratique muito bem esses mandamentos, mas eu também acredito em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa.

Estava eu aqui pensando com meus botões: “um pastor é um homem exemplar, estudou muito, conhece e transmite como ninguém os valores deixados por Jesus em sua passagem pela terra”. Ih! Acho que estou falando da pessoa errada, esse perfil não é do Feliciano, ele gosta é de dinheiro, é um típico ariano da era nazista, só pensa na limpeza social, minimiza e desconsidera a humanidade dos negros e dos gays, mesmo sendo ele descendente de negros. Ou teria ele um parente gay? Como está explÍcito que ele odeia seus ancestrais, o que se pode pensar? Esse cidadão, eleito pelos incautos eleitores brasileiros, a maioria negros e muitos gays, assume agora não sei porquê, a presidência da Comissão dos Direitos Humanos e das Minorias para provocar a destruição das parcas medidas protecionais conseguidas a muito custo por esses grupos sociais, que desde a colonização são tratados com desprezo pela mínima sociedade branca a qual, aliás, ele não pertence. Senhor tem piedade de nós.

Dentre os seus projetos para as minorias (as quais ele agora tem obrigação de defender), um ultrapassa a qualidade de bizarro, pois ele tenciona “curar” a homossexualidade transformando as pessoas pertencentes a esses grupos em heterossexuais, através de tratamento psicológico; é claro que o Conselho Federal de Psicologia não permite esse tipo de atuação por parte de seus profissionais. É claro também que o amigo de fé do Feliciano, o deputado João Campos, do PSDB do Estado de Goiás, elaborou o PDC 234/2011, pretendendo suspender a resolução do CFP, por acreditar que o gay precisa da orientação psicológica, que o transformará em heterossexual algum dia. Não sei se devo chamá-lo de “inocente”, racista, preconceituoso ou parvo mesmo. Ele deve acreditar na lenda de Macunaíma, porém a única coisa que todos nós sabemos que se modifica enquanto forma de ser é a lagarta que se transforma em borboleta, mas gente é um tanto complicado; o compositor cearense “Falcão” em sua poesia musical brega disse: “homem é homem, menino é menino, macaco é macaco e veado é veado”. Nesse caso acredito ser impossível a transmutação pretendida pelos ilustres deputados, pois as pessoas, assim como os animais, têm suas naturezas e seguem em frente como são. A menos que ele tenha se transmutado e acredite que todas os brasileiros queiram a mesma resolução.

Feliciano diz que ser gay é opção e ser negro é uma desgraça que não se pode mudar. Caramba! A população brasileira segundo informações do site http://www.sae.gov.br, atualizadas em março de 2012, é formada por 51% de negros ainda muito ignorados pela sociedade, com uma carência de conhecimento muito aquém do suportável e que resulta em 50% de analfabetos. Parte desses negros certamente elegeu esse pastor para lhes representar e buscar melhorias para as suas regiões e para suas sobrevivências, e agora o que recebem em troca é o desprezo e a desqualificação de suas pessoas para serem igualadas a animais e desmerecedores de atenção e respeito. O Deputado Feliciano disse que “trataria negros e gays como se fossem pessoas normais”, porque para ele essas pessoas não devem seres humanas, né? Em 2014 será tempo de reeleição e o candidato Feliciano dirá em seus discursos que os negros são “desgraçados de nascença”? Que são amaldiçoados por Noé (maldição de Cam)? Aposto que esses mesmos negros amaldiçoados serão os seus melhores amigos e o elegerão outra vez. No Brasil é assim, o cara maltrata a população, rouba, é desmascarado por um escândalo gigantesco e depois volta como heroi ao poder; vejam o caso do Renan Calheiros, que está de volta à presidência do Senado. Nós, brasileiros, merecemos! Quem não tem educação é sempre usado como massa de manobra, isso é fato.

Para ser bem aproveitado no Brasil precisa ser criminoso, essa característica funciona como garantia para forjar situações lucrativas que beneficiem a muitos. Falando em crime, Feliciano se encontra atualmente respondendo a dois processos no STF, primeiro por estelionato e depois por discriminação e homofobia. Esse é realmente o cara indicado para assumir a pasta dos Direitos Humanos e das Minorias! Mas o processo se encontra lá paradão. O STF até o momento não deu a palavra final para condená-lo a nada, seria proteção política? Muito trabalho ou insuficiência de provas?

É assim que a justiça age quando não quer “agir”. E assim caminha a administração brasileira, mais um desonesto na presidência de alguma coisa importante, coitados de nós, brasileiros, que não temos opção de voto, nem escolha de quem nos represente e assim nos encontramos encaixados na canção do “Ultraje a rigor” nos anos de 1980: “A gente não sabemos/Escolher presidente/A gente não sabemos/Tomar conta da gente/A gente não sabemos/Nem escovar os dente/Tem gringo pensando/ Que nóis é indigente.../"Inúteu"!/A gente somos "inúteu"!/"Inúteu"!/A gente somos "inúteu"!”.

Aliás, em matéria de inutilidade quer demonstração maior do que a que está acontecendo nas últimas semanas. O Brasil está clamando pela renúncia de Feliciano, as pessoas estão gritando pelas ruas, pedindo socorro pelas redes sociais, estão dizendo em alto e bom tom “não queremos Feliciano”, mas não são ouvidas pelos deputados; a sociedade está se manifestando de forma bastante contundente, mas os políticos estão surdos. No tempo da democracia, a tirania do acordo político, a ortodoxia da religião e o desrespeito pelo ser humano de vários grupos sociais impera, e o eleitor, que com sua boa fé elegeu ou reelegeu um político desonesto, se vê sem nem mãe e desqualificado de todas as formas pelo ódio, pelo racismo e pelo preconceito tão combatido nas últimas décadas.

O tempo não para e o mundo muda constantemente, mas o Brasil em matéria de conscientização e escolha política dá um passo atrás de maneira vergonhosa, pois no mundo moderno esse tipo de comportamento é inaceitável. Colocar um político em uma posição tão importante quanto a comissão de Direitos Humanos e das Minorias apenas para satisfazer o seu ego, sem pensar no que essa decisão possa acarretar depois é retrocesso. O Deputado Feliciano diz que sua eleição para a presidência da Comissão dos Direitos Humanos e das Minorias foi um acordo prévio com o PT, portanto, não importa à câmara qual o prejuízo da população gay e negra do Brasil, o importante é manter o acordo e conseguir preservar os votos em 2014. Tá vendo, pessoas? Isso acontece com quem não sabe votar, com quem vai à urna sem pensar no que lhe pode acontecer ao ser representado por determinado candidato.