Durante o julgamento do processo, a relatora fez a leitura do relatório, que apontava as principais causas para a concessão da anistia. Entre os motivos citados estavam as perseguições, que culminaram em seu assassinato por policiais do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), ao ser surpreendido por uma emboscada na capital paulista.
Após a leitura, foi anunciado o parecer favorável à anistia post mortem de Carlos Marighella. O público se emocionou, principalmente familiares e amigos. A viúva do líder revolucionário, Clara Charf, chorou ao ouvir a decisão. “Durante muitos anos mentiram sobre as atitudes de Marighella, fizeram diversas acusações para justificar as perseguições e a morte. Jogaram o nome dele na lama”.
A família não pediu reparação econômica ao governo federal pelos danos morais sofridos pelo líder político e sua família. O evento também faz parte das comemorações do centenário de nascimento de Carlos Marighella. “Com este resultado, a Comissão da Anistia fez justiça. Desmentiu tudo aquilo que foi difundido na época sobre ele, que meu pai era autoritário, terrorista. Marighella era um brasileiro digno, que lutou contra a ditadura. Devemos muito a ele”, afirmou Carlos Augusto Marighella, filho do homenageado.
De acordo com a vice-presidente da Comissão da Anistia, Sueli Aparecida, todas as pessoas que foram prejudicadas por perseguição política durante os períodos de 1946 a 1988 deverão ser declarados anistiados políticos. Durante a análise dos conselheiros, são observadas também as consequências que as perseguições causaram à vítima e aos seus familiares. “Cabe à Comissão da Anistia restaurar as condições que ele teria se não fosse perseguido político”.
Governo anuncia criação do memorial em homenagem ao militante político
Desde que foi criada, a comissão julgou 55 mil requerimentos de anistia política. Em 14 mil casos houve algum tipo de reparação econômica, e em 22,5 mil processos houve apenas o pedido oficial de desculpas do Estado. Dezoito mil pedidos de anistia foram negados.
No total, foram concedidos aproximadamente R$ 2,4 bilhões em reparações econômicas. Há 11 mil processos na comissão aguardando análise em primeira instância e outros 3,5 mil pedidos de recurso. Nos últimos três anos, a comissão analisou 10 mil processos por ano. Para o governador Jaques Wagner, a anistia é uma maneira de se fazer justiça e um reconhecimento à luta de Carlos Marighella, que desde a sua juventude lutou pela democracia do país.
“A anistia está fazendo justiça com todos os brasileiros perseguidos políticos da época. A anistia é também uma maneira de dizermos que não queremos que este período de ausência de democracia retorne”, disse Wagner em seu discurso, no qual também anunciou a criação do Memorial Marighella, que vai expor fotos e a biografia do militante político.
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