Não entendeu nada, né? Explico agora:
Pra começar devo dizer que num regime totalitarista, as classes média e alta, determinam, a partir dos seus valores, o que é melhor para uma população sem se preocupar se essas decisões farão bem ou mal aquela sociedade atingida. Então, o que acontece em Valença é exatamente isso; um grupo de “burgueses” junto àquele grupo chamado de sociedade organizada, tomaram a decisão de modificar muito a festa do Amparo. Essa decisão de cima para baixo, além de mexer com os fazeres culturais vai prejudicar muito aquelas pessoas que aproveitam a época da festa para garantir um ganho maior, vendendo bugigangas no circuito, aquelas coisas que criança adora, como bolas, maçã do amor, cachorro quente e outros. Não encontrarão também, se a mudança for mesmo efetivada, o acarajé, a pipoca, o algodão doce, os doces de forma genérica. Enfim, a diversão de crianças e adultos está ameaçada. É claro que os comerciantes locais também triplicam o faturamento nessa época e os moradores da área se sentem incomodados com todo esse agito cultural.
Antes de mais nada, devo dizer que existem medidas tomadas que são necessárias, tais como, venda de bebidas em garrafas, a lei não admite, proibição de subida de automóveis, até porque a rua não comporta. Os churrasquinhos no espeto, acabei de descobrir que existe uma lei estadual que proíbe sua venda em festa de largo, por ser um objeto pontiagudo que pode se transformar em arma, tudo bem. Mas estão modificando tudo na festa, as barracas que ficam no circuito foram retiradas e para compensar, surgiu uma nova modalidade de negócios no alto do Amparo, um 'shopping amparo', temporário e a céu aberto, é isso mesmo, vão ser criadas praças de alimentação. Agora eu interrogo, quem serão os privilegiados que participarão desse circuito chique? Posso até arriscar em dizer que em primeiro estarão os membros da Igreja e depois, se sobrar alguma vaga, quem sabe, quem for mais amigo de quem distribui a vaga consiga um lugarzinho para trabalhar.
Amigos e não amigos, a festa do Amparo foi criada pelas mulheres da Vila Operária há mais de quarenta anos e com o aparato cultural que existe atualmente, como a montagem de barracas para vender doces e alimentos, e é claro que com o passar do tempo outras atividades vão surgindo. Na década de 1980 havia boate no circuito, eu mesma dancei muito lá. Quem não lembra da antiga sede do Mach Five? Hoje reside no local a filha de Itamar Meirelles; e as festas no espaço Mirante, quem não chegou lá? Depois vieram os barracões com sambões e pagodões, confesso que acho essa modalidade de música muita chata, mas tem quem goste. Essas pequenas mudanças podem ser chamadas de ressignificação, porque não acabou, apenas mudou a forma de se continuar o que já existia de maneira diferente. Agora o pequeno grupo que exige mudanças radicais chama a proibição de fazer quase tudo de “ressignificação”. Acho que estou desaprendendo o significado das coisas ou estão subestimando minha inteligência.
A festa do Amparo é um festejo popular, do qual a Igreja se apropriou e a comunidade aceitou, transformando a cidade num mar de pessoas no dia 08 de novembro todos os anos. Todavia, outras intromissões abruptas na organização fica complicado. Na boa, você já viu pessoas católicas participarem de reuniões para decidir como fazer um evento evangélico? Então devo te informar que a resolução sobre a nova ordem da festa do Amparo foi tomada por uma grande parte de pessoas evangélicas, tá bom pra você? E agora para quem se acende a vela? Jesus disse “a César o que é de César”. Os evangélicos não querem saber dos católicos por perto para nada, e os católicos chamam os evangélicos para decidirem suas festas. Ideia muita complexa para minha inteligência.
Ah, a festa do Amparo tem como preocupação oferecer Jesus para a comunidade que já faz parte da Igreja, mas e os visitantes que deveriam ser conquistados, eu hein? O objetivo da festa é oferecer Jesus realmente, mas parece que a Igreja não está ouvindo o que o Papa Francisco está pregando; qual seja, a conquista dos fiéis. E o grupo totalitário tem mais valor que o pensamento do Papa. E nesse caso, determina quem pode subir e o que se pode fazer durante a festa. Quanto aos camelôs, serão jogados em algum lugar distante, onde ninguém compareça com medo de ser assaltado. A função da festa é evangelizar em primeiro lugar, mas também é um mecanismo de sustentação do trabalhador pobre que precisa dessa renda para ajudar em sua economia. Com essas mudanças essa população não conseguirá a renda a mais tão desejada, e o pequeno grupo que toma as decisões a partir de sua forma de pensar, sem se preocupar com as 'minorias', ficará feliz por conseguir desconstruir a cultura local. E não me digam que a festa da cidade que dura apenas um dia (10 de novembro), vai suprir a perda econômica que essas pessoas terão.
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