Mãe Stella é a primeira mulher negra a conquistar uma vaga na academia |
Pela primeira vez, nos 96 anos da instituição, uma ialorixá ocupará uma vaga na ALB. A protagonista deste marco histórico é Maria Stella de Azevedo Santos, 88 anos, líder do Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais tradicionais terreiros do Brasil.
Mãe Stella é a primeira mulher negra a conquistar uma vaga na academia. Além de todos estes pioneirismos, ela vai ocupar a cadeira nº 33, que tem como patrono um abolicionista: Castro Alves.
E mais: o último ocupante da vaga foi o historiador Ubiratan Castro de Araújo, um intelectual combativo na luta contra o racismo.
"Minha mãe Stella tem uma particularidade: não necessitou sair de sua literatura pessoal, da sua experiência de sacerdotisa para galgar esta posição. Ela não precisou de articulações literárias complexas e inadequadas para ganhar o título com que representa todos nós", diz o historiador e religioso do candomblé, Jaime Sodré.
Manifesto
Com a chegada de Mãe Stella, a ABL também abre as portas para a representante de uma religião que luta contra os efeitos de um preconceito histórico.
Há apenas 37 anos os terreiros tinham que ir à polícia pedir autorização para realizar seus ritos. Desde então vêm reiterando suas ações em busca do respeito para o qual Mãe Stella contribuiu de forma particular.
Em 1983, ela esteve à frente da elaboração de um manifesto que conclamava os membros de candomblé a assumir a sua religião e pedia o afastamento da prática do sincretismo e de vincular seus ritos ao catolicismo.
Foi uma ação de afirmação. "Para mim é assim. Minha história tem sido marcada pelo trabalho, ou seja, aquilo que eu acho que têm que ser feito", afirma Mãe Stella.
O manifesto tem mostrado frutos, principalmente em uma nova geração de lideranças religiosas.
"Eu, que ainda não havia assumido a liderança do Terreiro do Cobre, fiquei feliz de descobrir que pensávamos do mesmo jeito sobre o mesmo tema", diz a ialorixá Valnizia Pereira de Oliveira.
Autora dos livros Resistência e Fé (2009) e Aprendo Ensinando (2011), Mãe Valnizia analisa a chegada de Mãe Stella à academia de letras como um incentivo para aqueles que, como elas, estão usando a literatura para transmitir sua experiência religiosa.
"Não é para contar segredos, mas mostrar o que a gente ensina e ao mesmo tempo aprende. Esta conquista de Mãe Stella representa a luta e resistência de líderes religiosas que vieram antes".
Aplausos
O mesmo aponta o tata de inquice Anselmo dos Santos, líder religioso do Terreiro Mokambo. "Esse título é um reconhecimento ao candomblé e contempla todos nós", diz.
As impressões da importãncia da atuação de Mãe Stella vindas dos que a conhecem de forma mais pública são reforçadas por quem convive de perto com ela.
"É uma orientadora, uma pessoa a quem se pode pedir conselhos. É excepcional", afirma o ogã José Ribamar Daniel, presidente da Sociedade Cruz Santa do Ilê Axé Opô Afonjá, que é a representação civil do terreiro.
A admiração também vem dos colegas da academia. "É mais do que justa essa homenagem à escritora Maria Stella. É uma pessoa que tem um grande conhecimento e que vai nos trazer a visão de outra realidade", diz a escritora Myriam Fraga.
Produção
Mãe Stella é autora dos livros E assim aconteceu o encanto, escrito em parceria com Cléo Martins (1988); Meu tempo é agora (1992); Òsósi - O Caçador de Alegrias (2006); Owé - Provérbios (2007); Epé Laiyé - terra viva (2009); Além de Opinião (2012), coletânea de artigos publicados, quinzenalmente, em A TARDE.
São obras onde estão presentes suas experiências e reflexões sobre o candomblé.
São obras onde estão presentes suas experiências e reflexões sobre o candomblé.
(A Tarde)
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