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sexta-feira, 30 de março de 2012

VALENÇA - Mulheres marisqueiras contribuem com o desenvolvimento local no Baixo Sul‏

Mulheres de vida simples e modesta, de sorriso fácil e tímido, com histórias de vida de muito trabalho, mas também de conquistas. Assim são as marisqueiras das comunidades de Cajaíba e Maricoabo, em Valença, que tiram dos manguezais o sustento de suas famílias, praticando o ofício passado de geração a geração de mulheres.      

“Sou marisqueira há 55 anos; comecei essa atividade ainda menina quando minha mãe me levava para o mangue para ajudá-la na mariscagem, e desde aquele tempo não parei mais. Hoje, com 64 anos, aposentada, continuo mariscando porque sou feliz e amo o que faço”, declarou a marisqueira Sônia Pereira do Rosário.

O trabalho dessas mulheres é definido pela captura de moluscos e crustáceos presentes nos manguezais, a exemplo de caranguejos, guaiamuns, siris, lambretas, sururus e ostras. Nesse contesto, o Escritório Local de Valença, da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), tem forte participação, a partir da prestação de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), às comunidades pesqueiras, com ações tanto na área técnica como social.

Nessas comunidades a empresa vem ministrando cursos de confecção de redes e de gaiolas, e de beneficiamento do pescado, proporcionando, às marisqueiras, conhecimento e melhoria dos equipamentos necessários a atividade. Para a chefe do escritório de Valença, Sandra Marins, as marisqueiras são muito importantes no desenvolvimento socioeconômico das comunidades pesqueiras. “Estas marisqueiras são lutadoras vitoriosas, mulheres que trabalham com amor e dedicação, com papel fundamental junto a suas famílias, contribuindo com a renda familiar”, comentou Marins.

A médica veterinária da EBDA, do Programa Pacto Federativo, Maiana Machado, informou que os técnicos da empresa visitam periodicamente as unidades familiares das comunidades pesqueiras, em função de o pescado ser considerado uma matéria prima fresca, que exige cuidados especiais. “O nosso trabalho é de orientação as marisqueiras, visando adotarem boas práticas de higiene nas instalações, armazenamento e refrigeração dos produtos, assegurando, ao consumidor, um produto saudável e de qualidade”, explicou Machado.

Os trabalhos das marisqueiras são divididos em três etapas: a primeira, que começa muitas vezes antes do sol nascer, consiste na ida aos manguezais em busca do melhor marisco; a segunda etapa é quando elas começam o trabalho de beneficiamento dos mariscos, a partir do catado de caranguejos, siris e aratus, finalizando o processo com a lavagem dos produtos, embalagem, peso, refrigeração e comercialização, geralmente para cabanas de praia, bares e restaurantes da região.

O trabalho do catado conta com uma força extra, a mão de obra familiar, onde filhas, sobrinhas e netas se unem para ajudar no serviço. Janailde Andrade (29), marisqueira conhecida como “Rainha do Sururu”, chega a catar dez quilos de marisco por dia, com uma jornada de trabalho de seis horas. “As pessoas me perguntam como faço isso, mas nem eu mesmo sei explicar; acho que faço esse trabalho com tanto amor que nem vejo a hora passar”, comentou Janailde.

As comunidades de Maricoabo e Cajaiba ficam às margens da BA 001, em Valença, e abrigam, hoje, 300 marisqueiras que, em muitos casos, garantem a renda de sua família. Maria José dos Santos é uma dessas: viúva há dez anos, Maria cria oito filhos sozinha. “Desde que meu esposo morreu, eu tive que garantir o sustento da casa, a escola dos meninos, e tudo que as crianças necessitam. Vou para o mangue cedo e só saio de lá quando o balde está cheio”, afirmou a marisqueira.

Nem só de sofrimento vivem as mulheres dessas comunidades. Amores, casamentos, filhos e netos são as alegrias da vida dessas marisqueiras. Em meio a depoimentos espontâneos Janailde Andrade comenta que se apaixonou por seu esposo, Cassio Pereira, quando estava com suas primas mariscando na ilha do Galeão, nas proximidades de Morro São Paulo. “Estava mariscando quando o vi em uma canoa pescando; no primeiro momento achei ele tão bonito e valente, enfrentando uma forte chuva e muito vento, o que dificultava aquele dia de trabalho. Hoje, sou casada há 13 anos e tenho dois filhos. Posso dizer que foi um amor que surgiu nas margens do manguezal”, complementou, com um sorriso de satisfação, Janailde.
(EBDA/Assimp – Foto: Isabela Canuta)

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