Irene Dóres*
Sabe aquele dia em que você sai para ver um espetáculo com toda expectativa do mundo e chegando lá nada te surpreende! Pois é, aconteceu comigo, nada me surpreendeu, porque aconteceu tudo o que eu esperava que iria acontecer. Fiquei bolada, voltei à infância, me diverti e me emocionei. A Orquestra Ouro Preto já era notícia para mim, porém nem imaginei que um dia a veria aqui na minha cidade e que eu e a população daqui assistiríamos tão belo espetáculo sem pagar nada por isso. O concerto the Beatles, como num passe de mágica me remeteu à minha infância, no período da Ditadura Militar, onde a música estrangeira de forma geral era muito bem vinda ao país, para sufocar os gritos de alerta dos brasileiros que teimavam em se expressar por metáforas contra a Ditadura. Mas The Beatles, não, esses nós podíamos ouvir à vontade, até porque não entendíamos nada mesmo de inglês, era só dançar e ouvir aquele pop rock melódico, daqueles jovens ingleses muito loucos e maravilhosos que se imortalizariam com sua música tão sensata.
Depois de tanto tempo, de tantas mudanças no mundo Ocidental, do desaparecimento físico da banda inglesa, eis que surge uma Orquestra bem brasileira, ao sabor de pão de queijo, bela cachaça e tutu mineiro fazendo uma apresentação tão singela, tão Beatles, tão emocionante. É costume ver um Centro de Cultura completamente lotado quando o espetáculo vem de fora, e nessa sexta 22 de maio não foi diferente. Vi ali jovens, pessoas de meia idade e crianças ouvindo e cantando silenciosamente Beatles, com uma musicalidade inexoravelmente apaixonante, tudo se igualou, todos se encontravam na década de 1960/70, todos ali encantados e inebriados com a sonoridade que saltava dos corpos dos músicos através de seus instrumentos. Foi uma noite para não se esquecer.
A Orquesta Ouro Preto nasceu no ano de 2000 do sonho de três músicos: Marcos, Ronaldo e Rulfo e até os dias atuais sofreu poucas alterações, contando com 70% de sua formação inicial. A orquestra é grande e eles trabalham com variações. The Beatles é um concerto montado em 2009, e tem em seu elenco sempre os mesmos músicos. A Petrobras é o seu patrocinador oficial desde o inicio, o que permite a circulção do grupo pelo Brasil de Norte a Sul. A orquestra Ouro Preto já esteve na Bahia quatro vezes sendo duas na capital e outras duas em Feira de Santana, é a primeira vez portanto, que esta se desloca para interiores mais longíquos e oportuniza outros públicos a ouvi-los.
Bem, para além de sua história de sucesso, o encantamento musical que esta orquestra nos traz, bem como a singeleza colocada na musica dos Beatles, nos leva de volta no tempo, e nos faz cantar Beatles como adolescentes de uma época que já se foi há muito tempo. Uma orquestra com baixo, violão, guitarra, bateria, órgão e instrumentos eruditos, tudo que eu mereço, pois com minha jovialidade de quase 60, amo música e os Beatles me emocionam. É claro que não me distancio do Raul ou do Cazuza, adoro! Mas Beatles, é emoção especial, e se a Orquestra Ouro Preto me dá essa oportunidade, me encontro no primeiro lugar da fila para reviver com amor e nenhuma nostalgia uma musicalidade que nunca saiu de cartaz.
Parabéns ao Maestro Marcos Tóffolo pela ideia de “misturar” rock pop com o clássico através de seus instrumentos e músicos maravilhosos, e a Petrobras por bancar a arte e possibilitar ao espectador em qualquer lugar do Brasil a assistir um espetáculo tão belo.
(Irene Dóres. Atriz, Cronista, Jornalista free lancer)
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