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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Exibição de filme com blogueira Yoani Sánchez é cancelado após protestos em Feira de Santana

Apesar das manifestações, a blogueira agradeceu em seu Twitter a acolhida de seus amigos brasileiros

Depois de mais de cinco anos e 20 tentativas frustradas de deixar Cuba, a blogueira e dissidente Yoani Sanchez chegou nesta segunda Salvador. Desde a manhã de ontem em território brasileiro, a cubana foi recebida por manifestantes pró-Fidel Castro em Recife e Salvador.

Na capital baiana, de onde seguiu para Feira de Santana, a ativista teve que deixar o aeroporto por uma saída alternativa, após cerca de 30 manifestantes realizarem um ato no setor de desembarque do aeroporto. Eles levavam cartazes com os dizeres “Viva Fidel” e "mercenária", e gritavam frases como “Yoani, vendida aos yankees”.

Apesar das manifestações, a blogueira agradeceu em seu Twitter a acolhida de seus amigos brasileiros. Nas mensagens, ela disse que sentia-se tratada como se fosse uma irmã. “Os minutos continuam seguindo muito intensos. Tudo é muito lindo! Tenho a sorte de estar rodeada de um bom número de amigos que estão me tratando como uma irmã”, comentou em seu perfil.

“Meus amigos brasileiros conversam comigo sobre seu país, de suas luzes e de suas sombras”, acrescentou.

Em Feira de Santana, onde acompanharia a exibição de um documentário sobre liberdade de expressão e direitos humanos, Yoani foi mais uma vez alvo de protestos. Acompanhada do cineasta Dado Galvão, amigos e do senador Eduardo Suplicy, a cubana tentou participar do debate, mas a exibição foi cancelada após o tumulto.

Na estreia do filme, em fevereiro de 2012, Yoani não pôde comparecer pois teve o visto de saída negado pelo governo cubano. 

Mais cedo, em Recife, o desembarque da blogueira também foi tumultuado. Cerca 30 ativistas do Fórum de Entidades de Solidariedade a Cuba a receberam no saguão do local aos gritos de “Fora Yoani”, e palavras acusando-a de ser uma agente a serviço dos Estados Unidos.

Um dos manifestantes puxou o cabelo da blogueira e outros jogaram notas falsas de dólar, chamando-a de vendida.

Democracia 
Manifestantes abriram faixas que diziam “Segundo a Unicef, existem 146 milhões de crianças subnutridas no mundo, nenhuma delas cubana” e “Fora Yoani, agente do serviço dos EUA contra o povo cubano”. Surpresa e desconcertada, ela se limitou a dizer: “Isto é a democracia. Eu gostaria que houvesse uma democracia assim em meu país”.

O Brasil é apenas o ponto de partida. Yoani, de 37 anos, deve percorrer mais de 12 países numa viagem de três meses. Ontem, a blogueira assistiu ao filme Conexão Cuba- Honduras, do cineasta Dado Galvão, que a entrevistou para a película. 

A noite em Feira de Santana também contou com a presença do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que contou ter apoiado a vinda da dissidente ao país em duas outras tentavias, ambas frustradas.

“Acredito que a vinda dela ao Brasil seja um sinal positivo das autoridades cubanas”, afirmou. O senador disse ainda que as pessoas que acreditam que Yoani não luta por seu país e a chamam de agente da CIA estão mal informadas. “Vamos discutir o quanto ela já fez a favor do fim do embargo a Cuba”, acrescentou. 

Para o presidente da União da Juventude Socialista na Bahia, Vladimir Meira, Yoani só fala do que existe de ruim na ilha. “Ela representa aquilo que existe de desinformação sobre a ilha de Cuba. Ela não fala sobre a educação, sobre o apoio ao governo, sobre a saúde”.

Na Bahia até amanhã, Yoani segue hoje em Feira de Santana e visita o Porto da Barra e o Pelourinho na quarta-feira pela manhã. 

Cronologia
2002 a 2004 
Yoani viveu na Suíça por dois anos. Voltou a Cuba em 2004 e não conseguiu mais sair, mesmo tendo sido laureada com vários prêmios internacionais pelo ativismo na área de direitos humanos.

2007 
Yoani ficou conhecida mundialmente, através do blog Generacion Y, do portal Desde Cuba, onde publicava artigos e críticas ao governo cubano. Entre diversas polêmicas, entrevistou o presidente dos Estados Unidos, Obama, em 2009.

5 de outubro de 2012
Yoani foi presa na cidade de Bayamo, leste de Cuba, juntamente com outros dissidentes.

14 de janeiro de 2013 
A reforma migratória do presidente Raúl Castro determina que para sair do país basta apenas o passaporte em dia e o visto para o país de destino. Mas certas restrições foram mantidas: o regime ainda pode negar o passaporte a qualquer um por razões de “interesse público”, “segurança nacional” e para profissionais considerados “vitais” para o país.
(Correio)

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