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terça-feira, 12 de maio de 2015

Palavras de Irene Dóres - MORTANDADE INFANTIL NA MATERNIDADE DE VALENÇA...

O senso comum popular afirma aos quatro ventos que a saúde no Brail está na UTI. Alguns segmentos culpam os políticos, outros, o governo de forma geral, O que quase nunca se cogita é atuação humana em determinados casos.

Em Valença, por exemplo, fala-se muito mal do atendimento na Santa Casa de Misericórdia, o que não é tão irrelevante, há depoimentos sobre enfermeiras grosseiras, porteiros sem noção de realidade, que querem impor ao paciente uma espera para além do que ele pode suportar. Mas, o grande problema mesmo, atualmente se encontra no Centro Cirúrgico e as maiores vítimas são as parturientes, que estão perdendo seus filhos como se perde uma comida que se esqueceu no forno, passou do ponto e estragou.

Antes de relatar a mortandade dos bebês, vamos falar sobre regulação da saúde em Valença. Forma de enviar doentes de Valença para hospitais mais bem equipados de outras cidades. Esse convênio, segundo informações que foram dadas por anônimos, foi realizado ainda no governo de Ramiro Queiroz, por alguém que possivelmente recebeu alguma propina para enviar os doentes graves de Valença para Itabuna; nesse contexto quem vai para lá está quase com garantia de morte, a menos que Deus resolva socorrer por milagre. Como quase nunca encontra vaga por lá, o doente daqui é jogado para Salvador, com uma perda de tempo muito grande, o que só agrava seu estado de saúde.

O programa de regulação, em si, foi criado para evitar que um paciente fique vagando na capital até encontrar um hospital que o acolha, porém, é um mecanismo que escolhe quem pode viver e morrer. Primeiro: existe uma lista de determinações para que uma pessoa seja socorrida, e até ela vencer tais exigências já morreu. Segundo: para se encontrar uma vaga na regulação é preciso que se tenha um deputado ou outro político poderoso, que agilize o processo para salvar o doente e nem todo mundo tem. A maioria das pessoas que entra na regulação morre, no ano passado eu presenciei uma jovem morrer na Santa Casa esperando a regulação que não aconteceu, e nesse final de semana o fato se repetiu com o bebê, neto de minha amiga.

Todos aqui em Valença sabem que os nossos médicos não dão mais plantão no Centro Cirúrgico, por quê será? Então, são importados açougueiros (médicos) de outras cidades para matar os bebês que nascem pelo SUS aqui em Valença e a mortandade, acredite, está muito alta, porque eles querem fazer o parto humanizado, mas o que é um parto humanizado? É deixar a mãe e o bebê sofrendo por horas, até que ele fique sem oxigênio e morra!? É forçar uma mulher que não tem condição de ter um filho normal a parir e retirar o bebê sem vida!!? Humanização é tirar a vida de cinco bebês num só final de semana!!!? 

Para além da desumanidade demonstrada pelos açougueiros (médicos) visitantes, a precariedade do Centro Cirúrgico é muito grande, inclusive falta objetos essenciais, como um aparelho de ultra-som para avaliar como está o bebê nos momentos que antecedem seu nascimento; esse exame possibilita ao médico e ou açougueiro a perceber a necessidade de fazer uma cesárea, mas parece que o SUS está pagando mais pelo parto normal, nesse caso, a vida fica em segundo plano. Além do mais, a Santa Casa parece que não enxerga sua responsabilidade no oferecimento de serviços à comunidade, principalmente no momento de trazer uma vida ao mundo. Nessa mesma linha de pensamento seguem os açougueiros, que agem de qualquer forma e sem utilizar sequer a intuição para realizar um trabalho humanizado.

Essa forma de atuação da Santa Casa vem provocando na população que nasce em Valença pelo SUS e até por alguns planos de saúde, doenças neurológicas e mortes por causa da imperícia dos açougueiros (médicos), que se encontram nos plantões diários.

Neste final de semana, o neto de minha colega de trabalho e mais quatro bebês foram vítimas do atendimento desses açougueiros, que dizem estar humanizando os partos em Valença. O bebê de minha amiga, resistiu bravamente por trinta horas, depois de nascer sem sinais vitais por enfocamento com o cordão umbilical, acidente este que poderia ser evitado se, no Centro Cirúrgico, fosse realizada a ultra-sonografia do feto para saber qual seria sua condição de nascimento. Acidente ou negligência? Um Centro Cirúrgico sem ultra-som e um pseudo-médico sem consciência ou competência, porque morrer cinco crianças em um Centro Cirúrgico durante um final de semana... É gritante, que existe ali algo errado e muito errado!

O bebê neto de minha amiga faleceu por esses motivos e por causa da regulação, que não chegou a tempo, nós corremos atrás, mas, final de semana não se encontra deputados para agirem de imediato, é preciso dar muitas voltas para chegar até eles. Então, quando a UTI-Móvel foi designada para transferí-lo para Salvador, ele não mais resistiu, foi muito sofrimento em trinta horas, várias paradas e nenhuma condição de socorrê-lo satisfatoriamente aqui.

Quero aqui deixar exposto, que nesse momento pude contar muito com duas mulheres de Valença, que correram desesperadamente a procura de vaga para o bebê e de deputados e senadores que pudessem agilizar isso rápido, elas conseguiram, mas como era fim de semana já havia passado muitas horas.

Meus agradecimentos a Jucélia Nascimento, que desde o primeiro momento em que tomou conhecimento agilizou pessoalmente a troca da regulação para Salvador e começou a caça pelo senador e deputado. Meu agradecimento a Cíntia Rosemberg, que se desdobrou em Salvador para conseguir a vaga e a todo momento esteve em contato comigo e com o hospital para acompanhar o estado de saúde do bebê. Não foi possível salvá-lo, mas sei o quanto vocês lutaram comigo e se ele não tivesse tantas paradas estaria em Salvador na UTI neonatal se recuperando. É nessas horas que se percebe com quem se pode contar.

O bebê, neto de minha colega de trabalho, assim como os outros quatro, se foi, por negligência, incompetência, descaso, cinco famílias estão em choque, olhando para um enxoval sem criança para usar, porém espero que a direção da Santa Casa de Misericórdia tome uma atitude em relação à mortandade dos nasciturnos, isso não pode continuar acontecendo. Humanizar é cuidar para preservar a vida!
(Irene Dóres - www.irenedoris.blogspot.com - crônicas, textos de teatro para escola e biografia da atriz)

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