quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

PALAVRAS de IRENE DÓRES - "A Desistência do PAPA"

O mundo nas últimas horas se apresenta chocado, e a mídia no Brasil mudou de assunto, não há mais o grande clamor em prol da perda de centenas de pessoas mortas num incêndio. O clamor agora se faz pela perda ou substituição do pastor (orientador espiritual) de milhões de almas em todo mundo ocidental.

Há quase 600 anos o último Papa a não querer continuar no comando da maior Igreja Cristã do Ocidente se retirou em vida, da posição mais importante da religião católica para viver em harmonia consigo mesmo e voltar ao anonimato voluntário e calmo. Ele era Gregório XII, o século era quinze e o ano precisamente 1415. Era uma época conturbada, pois se fazia naquele momento a Cisma do Oriente, ou pra melhor entender; a divisão da Igreja em Ortodoxa grega e Igreja de Roma, isso aconteceu em Constantinopla, hoje Turquia. O então Papa já com 11 anos de pontifício abriu mão de seu cargo em nome da união da Igreja, pois era a única forma de acabar com a divisão ativa e tirar do poder os antipapas: Bento XIII, em Avignon na França e João XXII, em Pisa, também na Itália. Foi preciso Gregório renunciar para que os outros Papas fossem depostos. Isso é claro aconteceu após a sua morte em 1417.

Em se tratando do Papa, sua imagem representa o contato direto entre o religioso católico e Deus já que o pontífice é o substituto de São Pedro na Terra. A sua substituição de forma normal e determinada pela Santa Sé é por morte, e esse Papa atual, diga-se de passagem, já foi eleito pra morrer logo. O primeiro critério para sua eleição em 2005 foi à idade, pois ele seria apenas um Papa transitório, por isso o mais idoso possível para não durar muito. Mas isso não gerou efeito positivo, porque esse Papa não pop, não buscou a via da abertura nas leis morais e prevaleceu firme em suas ideias conservadoras mesmo se relacionando bem com todos os outros segmentos religiosos, principalmente os representantes religiosos do Oriente Médio.

A Igreja católica desde seu surgimento foi muito ortodoxa, matou em nome de Deus, torturou e também se enriqueceu á custas das doações dos fiéis, aculturou muita gente para disseminar seus dogmas e imprimiu modos de comportamentos padrões e posições preconceituosas. É claro que não estou dizendo aqui que as outras religiões cristãs são melhores, muito pelo contrário. O que quero dizer mesmo e que as praticas e o continuísmo da Igreja Romana fez com que os fiéis fossem se afastando e trocando de religião, mesmo sendo explorados por estas. Ao meu olhar a religião católica já melhorou muito, a ponto de ter reconhecido seus erros e pedido perdão, na questão financeira também mudou a forma de arrecadar proventos.

Mas o que tem a desistência do Papa Bento XVI com isso? Bem o Papa já assumiu a Igreja dizendo que “o barco do catolicismo estava afundando”. Mesmo sabendo da diáspora religiosa ele não conseguiu fazer muita coisa para juntar os fiéis e fazê-los continuar na prática cristã romana, tampouco percebeu que o mundo se transforma a cada segundo e que as instituições precisam se flexibilizar para ter uma aceitação mais ampla. Que fique claro aqui, que toda religião ortodoxa age pelo mesmo princípio, por isso não existe superioridade em Igreja alguma.

Amigos e não amigos pensem comigo, Deus criou as pessoas como elas são: feias, bonitas, gordas, gays, mas a Igreja de forma generalizada acredita que os gays, por exemplo, não têm direito a ser “gente”, isso está aliado a outras proibições que não caem nunca, vem de encontro ao direito do homem e do cidadão e finalmente afasta os fiéis da Igreja. E você acha que isso é muito? Então pense nos abusos sexuais praticados pelos representantes de Deus.

Agora pense num senhor com 85 anos de idade, doença no coração (ele usa marcapasso) e nas articulações, proibido pelos médicos de fazer viagens longas e com uma tremenda falta de vontade de relaxar pelo menos alguns pontos nos dogmas da Igreja para que as pessoas possam se sentir mais filhas de Deus. Pensou? Então, agora você acrescenta as dificuldades de administrar uma instituição do tamanho da Igreja católica, mais o cérebro cansado de uma pessoa idosa. Bem somando tudo, resulta numa pessoa fragilizada e sem condição de conduzir um barco que já se encontra há muito tempo prejudicado em sua navegabilidade.

A saída de Bento XVI do comando da Igreja Católica para os setores mais liberais da instituição, certamente virá como esperança de uma abertura religiosa e a humanização das “minorias”. Mas, na moral, o próximo Papa bem que poderia ser um Papa mais jovem e com a mente mais aberta para garantir a presença dos fiéis nas Igrejas e conquistar novos religiosos. Bem, enquanto o mundo se retorce, eu fico aqui torcendo para que a próxima fumacinha branca do vaticano traga um Papa mais moderno.

Um comentário:

  1. Temo que isso não aconteça, infelizmente um dos "preferiti" defende a criminalização do homossexualismo entre outros absurdos.
    Em tempo, seu texto está muito bom e esclarecedor!

    ResponderExcluir