Até 7 de agosto, a Universal lançará um disco tributo, com gravações inéditas de músicas do compositor, por artistas nacionais e estrangeiros
Caetano prepara novo disco com a Banda Cê e não quer transformar o aniversário em um grande evento: “Fazer 70 anos não há de ser o acontecimento principal do meu ano de 2012” |
Não convide Caetano Veloso para festejar seus 70 anos. Pelo menos não agora, mais de um mês antes da data: 7 de agosto. Não que o cantor e compositor seja refratário às celebrações. “Adoro aniversário e sempre gostei de festejar”, afirma o filho de Santo Amaro da Purificação, mostrando que não nega o DNA de sua mãe, a festeira Dona Canô, 104 anos. “Não gosto é de fazer festa, desde janeiro, de um aniversário que vai ser em agosto”, diz Caê sobre as homenagens que, ele sabe, são inevitáveis.
Não por acaso, seu site oficial foi reformulado. Entre as novidades, uma videobiografia, com depoimentos do artista sobre cada década de sua vida. Toda semana, até o aniversário, estreia um novo vídeo, de oito minutos, com ele falando sobre um período diferente.
Até 7 de agosto, a Universal lançará um disco tributo, com gravações inéditas de músicas do compositor, por artistas nacionais e estrangeiros. Entre eles, Mariana Aydar, cantando Araçá Azul(1973), e Marcelo Camelo, interpretando De Manhã (1965).
A gravadora reeditou - em LP e CD - Transa, um dos discos mais cultuados do cantor, lançado há 40 anos. Caetano gravou o álbum em 1971, quando estava no exílio, em Londres, ao lado dos músicos Jards Macalé, Áureo de Souza, Tutty Moreno e Moacir Albuquerque, já falecido. O disco foi lançado no ano seguinte, no Brasil, pela Phillips.
Em entrevista exclusiva ao CORREIO, ele conta por que o show de lançamento, em Salvador, em 1972, quase foi proibido. Pai de Moreno, de seu casamento com Dedé Gadelha, e de Zeca e Tom, da união com Paula Lavigne, Caetano também revela que o plano de voltar a morar em Salvador, há anos arrefecido, tem voltado. “Às vezes, com força”.
Por que acha que Transa fez e continua fazendo sucesso?
Na época, sucesso mesmo fez a faixa Mora na Filosofia. O disco foi razoavelmente bem. Mas é muito bom e nunca foi esquecido. Atribuo ao fato de ter um som coeso de banda.
Por que o show de lançamento, em Salvador, quase foi proibido?
Por causa da palavra “reggae”, que está em Nine Out of Ten. Os censores da época da ditadura não conheciam e ficaram desconfiados. Fui chamado à sede da Polícia Federal para responder a perguntas sobre isso. O chefe da censura, para minha triste surpresa, era o ex-padre Pinheiro, que tinha sido meu professor de metafísica na faculdade de filosofia. Ele disse que eu não tinha como provar que não era algo subversivo. Que havia procurado em vários dicionários, inclusive de gíria, e não tinha encontrado. Respondi que ele não encontraria mesmo, já que era o nome de um ritmo novo. Primeiro, ele não quis aceitar e disse que o show não seria liberado. Depois, me disse que liberaria, aceitando minha palavra, mas que, se depois se descobrisse que era algo contra a segurança nacional, eu iria sofrer sérias consequências.
Existe um abaixo assinado na internet “Queremos Transa ao Vivo”. Alguma possibilidade de isso acontecer?
Estou ensaiando novas músicas para gravar com a Banda Cê. Além disso, sem Moacir (Albuquerque) não ia ter graça.
Numa entrevista recente, Jards Macalé diz que não se lembra por que vocês brigaram. Você se recorda? Foi na época do lançamento de Transa?
Não brigamos na época do lançamento de Transa. Fizemos toda a turnê juntos e alegremente amigos. O show que está gravado pela Globo, no Municipal do Rio, foi feito um bom tempo depois da estreia. Mesmo depois disso, não brigamos. Macalé começou a falar mal de mim já nos anos 80, eu acho. Se é que não foi depois. E sem nenhuma referência a Transa, que eu me lembre. Recentemente, depois de termos voltado a nos falar, ele explicou a algum jornalista que se zangara porque os nomes dos músicos não apareciam na capa de Transa. Mas eu próprio me zangara com isso. A gravadora, inexplicavelmente, demorou anos para atender minha exigência de pôr os nomes ali. Para mim, Transa deveria ser tratado como um disco de banda.
Você está gravando depoimentos sobre sua vida e carreira para seu site oficial, que foi todo repaginado, como parte das comemorações pelos 70 anos. Como lida com a passagem do tempo, com a velhice?
Gravei depoimentos para o que me disseram que seria meu novo site oficial. Respondi às perguntas que me fizeram. Não me lembro de falarem que era parte da celebração dos meus 70 anos. Adoro aniversário e sempre gostei de festejar. Deixei de fazer isso há alguns anos, por causa das dificuldades da minha vida. Se eu estivesse no embalo antigo de dar grandes festas, daria uma assim para os 70 anos. Mas não é o caso.
Você é refratário às homenagens pelos 70?
Não é bem assim. O que eu não gosto é de fazer festa, desde janeiro, de um aniversário que vai ser em agosto. Meu aniversário é data sempre importante para mim, mas fazer 70 anos não há de ser o acontecimento principal do meu ano de 2012. Não estou mais memorioso porque vou fazer 70 anos. O tempo é inexorável. Tudo se dá no tempo, ele atravessa tudo. Tudo o que fazemos é lidar com a passagem do tempo. Velhice é ruim: ter 27 ou 45 anos é melhor. Mas viver é sempre bom e nada impede que alguém seja mais feliz aos 85 do que aos 19.
Qual é a dor e a delícia de fazer 70 anos?
Não sei. Ainda não fiz.
Você é de uma família longeva. Sua mãe, dona Canô, vai fazer 105 anos, lúcida, alegre, festeira... Você gostaria de chegar aos 105?
Se for lúcido, alegre e festeiro, sim.
Gilberto Gil diz que planeja voltar a morar em Salvador. Você também tem esse desejo?
Sempre tive esse plano. Há anos, ele estava esmorecido dentro de mim. Recentemente, tem voltado. Às vezes, com força. Moreno morou na Bahia todo o ano passado. Indo vê-lo em casa ou saindo com ele e Clara (mulher de Moreno) para jantar em Salvador, eu sentia vontade de morar aí.
(Correio)
viva caetamo veloso, santo amaro e rodrigo mário
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