quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Nelson Pereira dos Santos traz olhar feminino sobre Jobim

O documentário A Luz do Tom, de Nelson Pereira dos Santos, estreia amanhã como uma espécie de complemento, um "lado B" de um disco que começou a tocar quando foi lançado, ano passado, o filme A Música Segundo Tom Jobim, assinado pelo próprio Nelson, em parceria com a neta do compositor, Dora Jobim.

Se no primeiro filme não havia falas, apenas a própria arte do maestro Antônio Carlos Jobim compondo um rico painel musical, este segundo filme centra-se no homem. Há música, claro, emoldurando várias passagens de A Luz do Tom, mas a essência é a palavra, as falas que amarram um rico perfil do artista.

Nelson Pereira dos Santos, desta vez dirigindo o filme sozinho, toma como base o livro Antônio Carlos Jobim - Um Homem Iluminado, de autoria da irmã do músico, Helena Jobim.

Com roteiro do próprio Nelson, em parceria com Miúcha Buarque de Hollanda, o filme reconstrói a vida pessoal de Tom Jobim, a partir da narrativa de três figuras femininas: a própria irmã e biógrafa, Helena, e mais as duas esposas do biografado, a ex-mulher Thereza Hermanny e a viúva Ana Lontra Jobim.

O filme se divide em três blocos bem delineados. Começa com Helena Jobim gravada numa praia em Florianópolis, locação escolhida para representar a atmosfera calma e despovoada das praias cariocas nos anos 1930 e 1940.

Helena resgata as histórias de infância, fala das relações familiares, como o envolvimento de Tom com o avô e cita episódios, como a morte do pai, quando o artista tinha apenas oito anos.

Thereza Hermanny aparece num sítio em Itaipava (Petrópolis, Rio de Janeiro), dando conta de histórias da juventude e início da vida madura de Tom Jobim. Traz revelações, incluindo as condições em que o artista criou a canção Águas de Março, e a famosa lenda do telefonema de Frank Sinatra, convidando o compositor brasileiro a trabalhar com ele.


Tranquilidade

Já Ana Lontra Jobim, filmada no Jardim Botânico, na capital carioca, traz os relatos de um Jobim mais pacato, dedicado aos filhos, compositor já consagrado, cheio de sabedoria e manias. O amor de Tom pela figura da mulher, que incluía sua adoração por vocais femininos nas canções que compunha, motivou o cineasta a este formato de um filme inteiramente narrado por olhares femininos.

Os depoimentos são apresentados como se fossem conversas amenas, que vão trazendo à tona sinais de ternura e saudade. Quando tenta sair deste formato (há uma pequena encenação no trecho com Helena Jobim) a fita perde um pouco da sua força, mas sem comprometer o resultado final.

A Luz do Tom é, de fato, um ótimo complemento ao primeiro filme, no que se refere às informações. A Música Segundo Tom Jobim é uma obra muito mais rica cinematograficamente, bem mais intensa e envolvente. Por outro lado, A Luz do Tom, além destes elementos informativos, traz a citada ternura, a descrição de um personagem pelo olhar de quem o amou, o que acaba construindo uma concepção muito humana, característica do cinema que Nelson Pereira dos Santos sempre tenta imprimir em seus filmes.
(A Tarde)

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